De acordo com o Ministério da Saúde, existem mais de 45 milhões de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência no Brasil, ou seja, aproximadamente 24% da população brasileira. No mundo, em pesquisa feita pela ONU, a estimativa é de 1 bilhão, pouco mais de 12% da coletividade mundial.
Muito embora nem todos que estão nessa categoria joguem algum game, dados da AbleGamers Foundation estimam que existem 46 milhões de players com deficiência e, em sua maioria, dentro da faixa etária de trinta e cinco a quarenta e quatro anos. É evidente que se trata de uma quantidade significativa de jogadores que provavelmente sofrem com a falta de acessibilidade nos jogos.
Nesse sentido, a indústria de games tem evoluído na inclusão de novos jogadores e no aumento da diversidade de games acessíveis. Desse modo, as normas de acessibilidade digital têm orientado a adaptação da indústria para oferecer experiências, diversão e emoção dos jogos a todos os players.
A acessibilidade nos jogos pode envolver uma série de adaptações dentro e fora do digital, motivo pelo qual os acessórios utilizados para games também devem receber atenção.
O movimento pela acessibilidade nos games tem mobilizado uma ampla gama de atores, incluindo desenvolvedores, jogadores, fabricantes de aparelhos e acessórios, e legisladores. O objetivo do movimento é garantir que todos, independentemente do grau de acessibilidade necessário, possam ter uma experiência completa ao jogar.
Portanto, é importante entender o status e a aplicação das normas de acessibilidade digital no contexto dos jogos eletrônicos, destacando como a indústria está se adaptando para oferecer experiências inclusivas a todos os jogadores. Ao unir a criatividade e a tecnologia com a empatia e o compromisso de atender às necessidades de um público amplo, o mercado está redefinindo a experiência do usuário nos games.
/ Desenvolvimento Normativo
Nos últimos anos, as normas de acessibilidade digital, originalmente concebidas para tornar a web e a tecnologia mais acessíveis a pessoas com deficiência, ganharam uma aplicação essencial na indústria de jogos eletrônicos. Essas normas abrangem uma variedade de aspectos, desde a navegação simplificada até opções de legendas e áudio descritivo. À medida que os jogos se tornaram experiências mais complexas, a necessidade de torná-los acessíveis também aumentou.
Os desenvolvedores encararam a acessibilidade digital como uma oportunidade de criar jogos mais envolventes e atrativos. O resultado é uma série de avanços notáveis, incluindo controles configuráveis, modos de jogo adaptáveis e opções de customização que permitem que os jogadores ajustem a experiência de acordo com suas necessidades individuais. A acessibilidade não é mais tratada como um obstáculo, mas sim um catalisador para a criatividade e a inclusão.
Quando os jogadores podem personalizar a forma como interagem com o jogo, há o enriquecimento da experiência do usuário. O foco na acessibilidade não apenas beneficia jogadores com deficiências, mas também oferece uma experiência aprimorada a todos os jogadores, garantindo que o entretenimento digital seja verdadeiramente para todos.
Nesse sentido, é possível elencar algumas normas que tratam da acessibilidade no meio digital e que servem para a indústria dos games:
- ABNT NBR 17060: foi elaborada com o objetivo de estabelecer requisitos que facilitem o acesso ao ambiente virtual para quem possui deficiências que limitem a fala, força, audição, visão e cognição. Tem aplicação na redução de obstáculos a sites, apps e utilização de dispositivos mobile. No mundo dos jogos, pode ser aproveitada, principalmente, naqueles que podem ser jogados por meio dos navegadores (browsers) e smartphones.
- Lei de acessibilidade (Lei nº 10.098/2000, regulamentada pelo decreto nº 5.296/2004): trata-se de uma norma que não se limita a tratar da acessibilidade apenas em aspectos físicos, mas também em qualquer aspecto de comunicação, incluindo meios de voz digitais e meios ligados à tecnologia da informação. O que permite que desenvolvedores elaborem tecnologias assistivas, eliminem ou mitiguem barreiras físicas ou de comunicação, e realizem desenho universais na concepção de produtos e jogos.
- Lei nº 10.436/2002: reconhece legalmente a Língua Brasileira de Sinais (libras) como um meio necessário para estabelecer a efetiva comunicação com aqueles que possuem alguma limitação auditiva ou na voz. As libras podem ser implementadas para comunicar as histórias do jogo, ações, erros e tudo que seja necessário para o entendimento e experiência completa do usuário.
- Decreto nº 6.949/2009: Incorporou à Constituição Federal o que foi disposto na Convenção Internacional sobre o Direito das Pessoas com Deficiência, de modo que obriga o Brasil a promover acessibilidade às tecnologias da informação e comunicação, inclusive a internet e, consequentemente, mesmo que não de forma expressa, os jogos eletrônicos.
- Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência, lei nº 13.146/2015): Abrange inúmeros direitos das pessoas com deficiência, inclusive o acesso à comunicação e informação, além de sistemas e tecnologias, acesso à cultura, esporte e lazer, o que envolve os jogos eletrônicos.
Todas essas normas proporcionam, em algum grau, a acessibilidade aos games podendo oferecer opções de legenda, aumento da fonte, alterações nas cores, entre outras. Na verdade, toda a jogabilidade pode ser melhorada em termos de acessibilidade, como, por exemplo, a eliminação de funcionalidades que se tornem obstáculos para jogadores com deficiência, remapeamento de botões ou, até mesmo, a adaptação e otimização do controle como um todo.
À medida que mais desenvolvedores se comprometem a criar jogos verdadeiramente inclusivos, os benefícios se multiplicam. Essa é uma prova do poder da tecnologia quando aliada à inclusão, à criatividade e à determinação. Conforme seguimos adiante, a acessibilidade digital não será apenas uma norma, mas uma celebração da diversidade, tornando o mundo dos jogos eletrônicos mais acolhedor, e significativo para todos.