“Enrichessez-vous!”, ou, no português, “enriquecei-vos” foi um dos lemas utilizados durante anos pela França nos longínquos períodos de guerra. Fato é que toda a humanidade, não se restringindo ao território francês, desde sempre guerreou por poder e enriquecimento – capaz de gerar uma dicotomia de, ao mesmo tempo, dor e prazer às civilizações. O célebre “vil metal”, também conhecido como dinheiro, papel-moeda, nota, cédula, teve e continua tendo um papel de destaque em qualquer sociedade.
Seja na sua forma física (metal, papel-moeda) ou eletrônica, como investimento ou meio de pagamento, é inegável que o dinheiro sempre teve função essencial na evolução da humanidade, passando a um novo patamar com a revolução não tão silenciosa que temos visto no mundo das finanças, com a crescente digitalização de transações financeiras e, em especial, com o surgimento das chamadas CDBCs – Central Bank Digital Currencies – ou moedas digitais dos bancos centrais. Nada mais são do que a representação digital de uma moeda fiduciária, utilizando-se em sua infraestrutura de uma tecnologia de registro distribuído semelhante à adotada pelas chamadas “criptomoedas”, como é o caso do Bitcoin.
Venezuela, China, França, Estados Unidos, Bahamas, Nigéria, Coréia do Sul, Suécia… O que há de comum entre esses países? Todos estão desenvolvendo ou em vias de desenvolver suas moedas digitais, assim como, mais recentemente, o Brasil1, dentre outros países.
Esse fato demonstra que as CBDCs podem ser utilizadas tanto por países desenvolvidos como em desenvolvimento, viabilizando (i) a diminuição do custo de emissão e manutenção de papel-moeda, que, segundo estudos da Mastercard2, podem chegar à 1,5% do PIB, (ii) a contenção da “criptonização” dos mercados internacionais3 e (iii) a adoção de mecanismos mais ágeis de prevenção a ilícitos.
Ao contrário das “criptomoedas” – que na verdade devem ser consideradas como “criptoativos”, uma vez que não possuem curso forçado, característica essencial das moedas fiduciárias – as CBDCs, como o próprio nome indica, tendem a ser emitidas pelos Bancos Centrais dos respectivos países e, por isso, terão emissão centralizada, com curso forçado.
Essa dicotomia tem grande relevância se considerarmos que apesar de serem cada vez mais citados no noticiário econômico, por ora, os criptoativos ainda não são utilizados de uma forma mais ampla como meio de pagamento, o que significa que não atingiu o mainstream (isto é, a corrente dominante do pensamento comum).
No entanto, esta situação está mudando gradativamente com a crescente aceitação desses ativos em transações de pagamento por empresas relevantes do nosso mercado, como a Visa, que vem firmando parcerias com empresas de criptoativos, para as quais emite cartões. Para se ter uma noção, só no primeiro trimestre fiscal de 2022, os clientes da Visa fizeram U$ 2.5 bilhões em pagamentos com os cartões vinculados a criptoativos, o que equivale a 70% de todo o volume transacionado em moedas digitais para todo o ano fiscal de 20214.
Contudo, enquanto a utilização dos criptoativos não se consolida como meio de pagamento junto à população em geral, os Bancos Centrais estão começando a enxergar as vantagens dessa inovação, o que nos leva a fazer algumas perguntas: (i) Como as moedas digitais se conectarão com o mundo dos pagamentos, e qual será sua aplicabilidade? (ii) É possível que os criptoativos emitidos de forma descentralizada convivam com as CBDCs, que serão emitidas de forma centralizada?
Discutiremos esses aspectos em mais um artigo da nossa série Crypto Insights.
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